Entenda o caso Queermuseu, exposição cancelada no Santander Cultural


Queermuseu/divulgação/internet


A exposição Queermuseu - Cartografias da Diferença na Arte Brasileira estava a mostra no Santander Cultural, em Porto Alegre, desde o dia 15 de agosto, mas foi cancelada após a manifestação de grupos liberais e conservadores, entre eles o Movimento Brasil Livre (MBL). Representantes classificaram as obras da exposição como um incentivo a pedofilia, zoofilia, pornografia e uma arte profana. Em nota, o Santander defendeu as obras, mas cancelou a exposição.


Segundo Cesar Augusto Cavazzola Júnior, que fez a primeira crítica ao movimento no site Lócus, no dia 6 de setembro, a exposição representa “os mais variados ataques à moral e aos bons costumes que se possa imaginar”. Na avaliação do promotor da Infância e da Juventude de Porto Alegre, Júlio Almeida, “não há referência à pedofilia” nas mais de 260 obras a mostra no Santander Cultural.

O Santander lançou nota incentivando a Mostra e defendeu o que chamou de “uma mudança no modo de pensar”, quando se trata da questão de gênero. “Algumas peças apresentadas na mostra revelam imagens que podem provocar um sentimento contrário daquilo que discutem. Porém, foram criadas justamente para nos fazer refletir sobre os desafios que devemos enfrentar em relação à questões de gênero, diversidade, violência entre outros. O Santander repudia a pedofilia e todo tipo de preconceito. Adotamos uma posição inclusiva e, ao mesmo tempo, incentivamos uma mudança no modo de pensar, em sintonia com uma sociedade diversa e democrática.” Leia a nota na íntegra clicando aqui.


Repercussão

Na opinião de Karine Buglione, o encerramento das atividades foi uma perda.  “A exposição estava lindíssima com obras de Portinari e Pedro Américo. Uma pena a visão de alguns leigos ser tão arcaica e não saber compreender a arte em toda a sua essência. E o pior de tudo, é que aposto que a maioria das pessoas que estão repudiando a exposição, nunca entraram em um museu”, criticou.

Já Fernando Becker Lamounier comemorou o fim da exposição. “Como cidadão brasileiro, pai de duas filhas e médico pediatra, venho também mostrar minha indignação com essa falta de critério e falta de responsabilidade ao permitir que crianças assistam a esse tipo de exposição. Isso é na verdade, também falta de talento desses "artistas", que se acham vanguardistas por provocar polêmica dessa forma. Negativa. O Banco Santander certamente perde muito ao aliar sua marca, sua imagem pública a Pedofilia”, comentou.

A polêmica motivou um Projeto de Lei, apresentado pelo deputado estadual Lucas Redecker (PSDB), que busca regulamentar uma classificação etária para exposições em museus. Na opinião do parlamentar, um dos maiores problemas da exposição foi a falta de avisos nas obras impróprias para crianças. "Nós não estamos classificando o que é arte. Mas que o cidadão saiba o que vai encontrar", justificou.

A exposição

Aberta para visitantes desde 15 de agosto desde ano, a exposição Queermuseu, com obras de Lygia Clark, Candido Portinari, Alfredo Volpi e Adriana Varejão, seguia no Santander Cultural com mais de 2 mil catálogos, 400 páginas com reposições das obras e recebendo mais de 700 pessoas por dia. Ao todo, mais de 260 obras estavam expostas. A iniciativa buscava discutir, através da arte e de artistas locais e renomados, a questão de gênero no Brasil e no mundo.

Como tudo começou

Na manhã do dia 6 de setembro, Cesar Augusto Cavazzola Junior visitou a Queermuseu. Contrário as obras, publicou no site Lócus uma crítica com o título "Santander promove pedofilia, pornografia e arte profana em Porto Alegre". Morador de Passo Fundo, César tem pouco mais de 1.900 seguidores no Facebook, canal que utilizou para externar que no local haviam obras que atacavam “os mais variados ataques à moral e aos bons costumes que se possa imaginar”. Desde então, grupos liberais e ultraconservadores, como o MBL, começaram a se manifestar.

A partir desta manifestação, conservadores como o ex-militar Felipe Diehl, conhecido por postar vídeos no Facebook em apoio aos ideais do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e do filósofo ultraconservador Olavo de Carvalho, ficaram sabendo da repercussão do texto de Cesar e começaram a visitar a exposição. Felipe, trajando uma camisa com a escrita "Sou machista, sim", gravou um vídeo classificando as obras com palavras de baixo calão e expondo a imagem de funcionários da instituição questionando, no vídeo, se eram "tarados" ou "pedófilos".

Rafinha BK, outro influenciador digital conhecido no Rio Grande do Sul por agredir a deputada estadual Juliana Brizola (PDT) e por isso proibido de entrar na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, entrou na briga. Ambos postaram o vídeo no dia 8 de setembro, dois dias depois de Cesar e dois dias antes do cancelamento oficial da exposição. Somadas, as páginas de Felipe e Rafinha atingem mais de 25 mil seguidores. No dia 10, a exposição fechou e recebeu manifestações de militantes e artistas contra o fechamento, argumentando que houve uma censura nas obras, mas também de críticos que apoiavam.



VEJA FOTOS DE OBRAS QUE ESTAVAM EXPOSTAS: 



Queermuseu/Divulgação/Santander


Obra Adriana de VarejaoAdriana Varejão/Divulgação


Divulgação/Internet

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