Tabagismo: efeitos mais graves são sentidos após 20 anos de consumo
Por: Amanda Krohn, Bruno Lara e Vinícios Vanoni
Para Mariluz Kwiatkowski, fumar é uma fuga do mundo real. “Quando estou
nervosa, o cigarro parece me acalmar”. O início, aos 25 anos, foi por
brincadeira. “Eu estava numa parada de ônibus, vindo do serviço, foi num
momento de brincadeira com os meus amigos. O cigarro me faz gastar dinheiro e
pode fazer mal para a saúde”. Assim como ela, 18,2 milhões de pessoas consomem
o tabaco no Brasil e as complicações para a saúde preocupam.
Dr. Luiz Carlos Corrêa, coordenador do programa de tabagismo do Pavilhão Pereira Filho. Foto: divulgação |
Segundo o médico pneumologista da Santa
Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Luiz Carlos Corrêa da Silva, que atua há
45 anos na área, as complicações causadas para aqueles que fumam há poucos anos
já preocupam. “Os efeitos a curto prazo são consequência, principalmente da
nicotina. Vasoconstrição, que leva a redução do aporte sanguíneo a órgãos como
o coração e o cérebro; eventos cardíacos e cerebrais isquêmicos, como infarto
do miocárdio e isquemias; e do monóxido de carbono, que diminui o transporte de
oxigênio para o organismo”, pontua.
Mas com o passar do tempo os efeitos mais graves aparecem. “Surgem após
20 anos ou mais de consumo do tabaco. Mais de cinquenta doenças crônicas
incluídas em quatro grandes grupos: doenças cardíacas, doenças cerebrais,
câncer de diversos setores e doença pulmonar obstrutiva crônica, mais conhecida
como enfisema e bronquite crônica”, atenta o especialista.
O tabagismo é um dos principais fatores de risco para morte precoce e
incapacidade em todo o mundo. Em estudo realizado em 2015, aproximadamente um
bilhão de pessoas no mundo inteiro fumavam diariamente: um em quatro homens e
uma em 20 mulheres. A proporção é diferente da registrada 25 anos antes: em
1990, era um em cada três homens e uma em cada 12 mulheres. Atualmente, o
Brasil ocupa a oitava posição no ranking mundial de fumantes.
Tecla Brisckiewiks, mãe de Mariluz, começou a fumar por curiosidade.
“Comecei a fumar quando eu tinha 14 anos, por influência dos meus irmãos. Nós
não sabíamos como era e estávamos curiosos”, conta. Hoje, aos 72 anos, os
sintomas mostram o resultado: bronquite, asma e enfisema pulmonar. “Por causa
dos sintomas fiquei internada e peguei uma bactéria no joelho, que me causou
dor e inchaço. Demorou de 6 a 8 meses para descobrir que era uma bactéria e o
doutor só havia conhecido duas pessoas que passaram por isso. A outra pessoa
era um menino de 13 anos. A bactéria causou paraplegia, fiquei dois anos
dependendo de cadeira de rodas e quatro anos sem caminhar. Quase morri, sofro com
os problemas pulmonares até hoje, qualquer coisa que acontece já tem que sair
correndo”, relata. A filha, mesmo conhecendo o histórico da mãe, se nega a
parar de fumar. “Não me sinto prejudicada pelo hábito do tabagismo, a não ser
pelo dinheiro gasto”, garante.
Com a saúde debilitada, Tecla parou de fumar sem maiores dificuldades.
“Eu estava no hospital, então não tinha como fumar lá dentro. Não passei por
abstinência, e quando voltei pra casa já não sentia vontade de fumar. O cheiro
do cigarro me dava náusea”.
Mas nem todos conseguem largar o vício ou pior, recuperar a saúde.
“Alguns medicamentos foram testados e validados para serem usados com a
finalidade de diminuir os sintomas da síndrome de abstinência, principal fator
que atrapalha a vida dos fumantes que tentam parar de fumar. Mas, depende se os
efeitos ainda são reversíveis ou não. Por exemplo: alterações vasculares podem
ser reversíveis ou estacionarem se ainda não causaram danos significativos ao
órgão”, conclui o médico pneumologista Luiz Carlos.
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Pavilhão Pereira Filho, do Complexo Santa Casa de Misericórdia. Foto: divulgação |
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